quarta-feira, 16 de março de 2011

Concretude Contorcionista


Qual o maior símbolo de Brasília? As formas geométricas criadas por Oscar Niemayer. Pois bem, o Ballet Brasília tentou levar ao palco os símbolos brasilienses, sua concretude, com a música de Claudio Santoro, na peça Suíte Brasília Ato I, criada em comemoração aos 28 anos da cidade. O espetáculo com a participação da Orquestra Filarmônica de Brasília é parte do projeto Popularizando a Sinfonia.
Infelizmente falta à obra dançada criatividade e sobra obviedade. Ao grupo atual de bailarinos – a companhia foi fundada em 1985 e a peça teve estreia em 1988 – falta também maturidade. Nos dois primeiros movimentos ficou clara a insegurança do grupo. Não havia expressão em seus rostos, os movimentos por vezes estavam sem sincronia e, além disso, muitos bailarinos quicavam.
Só se vê dança de fato – que vai além da técnica – pela primeira vez no solo de Maria Carollina Marcelo. Até ali, a peça é uma sucessão de poses que formam figuras geométricas, com arabesques, developpés e muito, mas muito, contorcionismo. É como se estivéssemos assistindo a uma apresentação de ginástica artística ou de circo. (Ou a ideia é mostrar: nossa como eles têm abertura, que flexibilidade!?). O balé clássico, por si só, já é uma dança geométrica e Merce Cunnigham nos provava como era possível fazer uma dança geométrica mas bela, criativa e expressiva. Não eram necessárias poses estáticas para se fazer o desenho geométrico de Brasília. Ele podia ser feito dançando!
Quando Maria Carollina Marcelo surge no palco, em seu solo, ufa (!) chega com ela a dança de fato. Ela desenha no ar a geometria da cidade de Lúcio Costa e Oscar Niemayer sem precisar ficar em equilíbrio (ou desequilíbrio, como vimos nos dois primeiros movimentos) estático. Faz a geometria em equilíbrio dinâmico. E dança com todo o corpo! É a primeira vez que vemos expressão no rosto de um dos bailarinos da companhia.
Depois dela, infelizmente, o quadro da obviedade. Estão lá no palco (em pose estática) a catedral, o Congresso, etc. Por que não fazê-los dançado? Seria um pouco menos óbvio. Um movimento inteiro de música com o quadro da cidade...
Mais uma vez, após a grande obviedade, uma cena de grupo com movimentos dançados e sem tantas poses, a geometria brasiliense se dá no corpo e ponto final. Mas a obviedade parece a marca deste balé: o bailarino que limpa o rosto ao som da água, que dá marteladas no chão ao som do martelo, pedaços de danças de vários estados (a capital de todos os brasileiros), etc, etc, etc. O duo com Vivian Salles, que vem em seguida, destoa de todo o balé. Trata-se de um movimento na música de Santoro que lembra um idílio amoroso. Faz-se então um pas de deux romântico com figurino de Romeu e Julieta!!! Até então todo o figurino e cenário eram condizentes com a proposta concretista. As obras de Reinaldo Cotia Braga eram baseadas em esboços de Oscar Niemayer. Ali, no pas de deux, a impressão que se tinha era a de um enxerto (de dança e de figurino).
O grand finale termina com ... poses. Brasília merecia mais. Assim como a obra de Santoro.

segunda-feira, 14 de março de 2011

Histórias fabulosas


"A lua vem da Ásia" marca a narrativa surrealista do escritor Walter Campos de Carvalho. No palco, em monólogo de Chico Diaz, vira realismo fantástico. A peça, em cartaz em Brasília, até o próximo dia 3 de abril, no Centro Cultural Banco do Brasil, conta, em forma de diário, a trajetória de um ser incomum pelas mais diversas geografias possíveis e impossíveis, em busca de um entendimento e justificativa perante a vida (e a morte), desafiando com ironia a lógica deste mundo.
Um ser que se autodenomina com vários nomes, ao longo da vida. Que vive várias vidas, em suas histórias fabulosas. Trata-se de uma espécide de "Cidades invisíveis", de Ítalo Calvino, às avessas. Não importa a cidade percorrida, mas a história vivida.
E Chico Diaz as conta com maestria, neste seu primeiro monólogo. Ao fim da primeira parte fica evidente a transformação do personagem e do ator. No palco, na primeira parte, um miniquarto, com paredes de telas - que servem como telas para dar as indicações dos capítulos da trama - e móveis pequenos, de crianças. O cenário nos dá este tom surreal do texto. Mas Chico Diaz vive tudo tão intensamente que dá um ar de realismo fantástico.
O personagem conta seus causos e, aos poucos vai se transformando e o motivo de sua clausura fica evidente. Com muita expressão de Chico Diaz. Ao fim desta primeira parte, nos dá um tapa com luvas, deste mundo que vivemos que confina os loucos e ainda dá choques elétricos. É maravilhosa e triste a “grande fuga”.
O texto todo é irônico e ao mesmo tempo poético.
A segunda parte, nosso contador de causos vive intensamente as “cidades invisíveis às avessas”. Por vezes, chegamos a acreditar em seus causos... E, mais uma vez, foge.
A trilha sonora - por vezes alta demais - sublinha na primeira parte as cenas. Na segunda, é como uma canção que saímos a cantarolar. A iluminação, reforça as cenas.
Trata-se, portanto, de uma obra teatral que realmente vale a pena ir ver. E prestigiar a transformação do ator.



SERVIÇO

A lua vem da Ásia

Atuação e adaptação: Chico Diaz
Direção: Moacir Chaves.
Data: 11 de março a 3 de abril
Horário:
Quinta a Sábado,  às 21h e Domingo, às 20h
Local:
Teatro I | SCES, Trecho 2, lote 22
Bilheteria/Informações:
Terça a domingo, das 9h às 21h | Telefone: (61) 3310-7087
Ingressos: R$ 15 (inteira) | R$ 7,50 (meia entrada)