segunda-feira, 30 de maio de 2011

Engraçadinhos, mas ...

A renomada companhia de dança Pilobolus Dance Theatre está no Brasil para uma turnê que percorreu São Paulo e Brasília (ontem) e segue para Belo Horizonte (amanhã), Rio de Janeiro (1 e 2 de junho) e Porto Alegre (4 de junho). No programa, cinco peças que dão um panorama dos 40 anos de atividades d grupo. Há desde coreografias de 1975 até 2010, com ênfase para as sombras – literais ou não. É, inclusive, a peça "The Transformation" – a primeira em que mostra uma dança de sombras - a mais encantadora. Para quem foi ao teatro querendo ver o Pilobolus famoso por suas acrobacias, se decepcionou: era tudo mais sutil que atlético. A peça com maior energia, no entanto, "Redline", fica sem graça diante de todo o resto, que tem na irreverência e na sutileza seus pontos fortes.
Apesar de todo o renome, desta vez, o programa não foi feliz. O conjunto da obra – formado por cinco coreografias, algumas belíssimas - pecava pela linearidade do gestual e na música, tornando o todo cansativo. A encantadora dança das sombras – que aparece a primeira vez em “The transformation” (2009) – volta depois do intervalo, em versão história em quadrinhos  e termina por perder a graça, pois dramaturgicamente se alonga mais que devia. Outro problema do espetáculo, como um todo, é que por se tratar de obras distintas, ficam sem a chamada “costura”. Em comum elas têm as questões dos relacionamentos. Mas entre uma obra e outra, o tempo todo há um blackout e um “mini” intervalo, com a cortina fechando e esperando a troca da cena – como o cenário não é grandioso, não se entende o porque de tanta demora.
A irreverência e o bom humor é, sem dúvida, a marca da companhia. E quem a conheceu a partir dos anos 90, quando a companhia veio ao país pela primeira vez, se surpreende com a primeira coreografia (“Untitled”, de 1975), da primeira década de existência do Pilobolus. As acrobacias são sutis, nada com energia forte, malabarismos quase circenses, quedas perigosas, etc. “Untitled” é a dança das mulheres gigantes que, na concepção dos coreógrafos (criação coletiva), são Alices que crescem e se transformam. A graça chega a ser infantil e é extremamente poética. Em cena, duas grandes mulheres, parecem estar em pernas de pau. Mas não, estão sob o corpo de dois bailarinos. E o fato de serem homens deixa a cena engraçada. Em cima, toda uma delicadeza, suportada com pernas fortes. Mas não somos nós, mulheres do século XXI, exatamente isso Delicadas e fortes. Elas fazem, então, um jogo que começa entre elas, até que dão à luz a esses homens fortes e grandes (uma imagem poética maravilhosa). E, então, jogam com eles e com outros dois, que haviam passado quando elas eram “gigantes”. A coreografia toda é este jogo entre os bailarinos e as bailarinas e o vestido longo. Engraçadinho e profundo, sem ser demagogo. Destaque para Eriko Jimbo, que é de uma delicadeza e de uma limpeza de movimento belíssimas.
Vem, então, a obra mais linda: “The transformation” – a dança das sombras. Mais uma vez em cena, Eriko. A japonesa, que dança de tudo um pouco (sua formação tem desde acrobacia até hip hop) é muito sutil e precisa em seus gestos.
“Duet” (1992) é a obra seguinte, onde mais uma vez estão em cena Eriko Jimbo e Jordan Kriston (estavam juntas na primeira peça), que discute a relação de atração e afeto entre duas mulheres, desta vez, em um jogo corporal mais intenso.
Depois do intervalo, mais um jogo de sombras – literais e físicas – na história em quadrinhos “Hapless hooligan”. A proposta é muito boa: na tela o desenho em quadrinhos e a sombra dos bailarinos dançando. Mas o desenrolar desta história de amor que ocorre depois da morte é grande e cansativo – não existe mais surpresas na magia da encenação, além de ser tão literal a história, quase didática. Perdeu-se, dramaturgicamente, o tempo para encerrá-la. Esta obra, inclusive, se mais curta, podia ser a finalização do espetáculo, que não perderia em coerência e teria um outro tipo de ápice.  
Então, quando já estamos cansados de danças sutis, com melodias idem, vem “Redline”. Uma quebra na lineralidade que ocorria no espetáculo até então. O embate por ele mesmo. Em cena, seis bailarinos – homens e mulheres – se degladiam. Faltava ao espetáculo um clímax, que talvez pudesse vier de “Redline”. Mas não. Fica sem graça, apesar de todas as gracinhas anteriores. Desta vez, o Pilobolus não nos surpreendeu. Uma pena.