quarta-feira, 20 de julho de 2011

Vigor físico mais evidente... mas apenas isso


Estreou ontem em Brasília “A lenda da água grande”, do Ballet Nacional de Cuba. É a primeira vez que a obra, baseada em uma lenda indígena brasileira, é dançada fora da ilha de Fidel Castro. Também é considerado o primeiro “balé contemporâneo” da cinquentona companhia. Contemporâneo mais pelo tema do que pela linguagem, pois a estrutura dramatúrgica é de um autêntico “balezão”. Quem já viu o grupo dançando “Giselle” (que esteve em 2009 no Brasil) ou outra grande obra de repertório fica com a sensação de quero mais. Não enche os olhos...
A lenda conta a história de amor do valente Tarobá e Naipí, a jovem escolhida para ser sacrificada no culto ao monstro Mboi Tui. Os dois jovens fogem e o monstro a transforma numa pedra que, com sua fúria, se racha, abrindo as cataratas do Iguaçu.
A obra é boa para ver o vigor físico da dança cubana. A escola de balé cubano foi baseada na russa, com adaptações. Eles têm uma musicalidade diferenciada e uma movimentação ágil, com saltos com giros, mudanças de acento. Nesta obra, estas diferenciações ficam evidentes. Mas, apesar disso, não encanta. Por mais que o jovem coreógrafo Eduardo Blanco (29 anos) tenha começado a carreira ainda menino (aos 12), ainda falta uma pegada. Em uma hora e meia de espetáculo, dividido em dois atos, são poucas as cenas que encantam. Uma delas é a do embate de Taborá com Jaguar. São feitos desenhos no espaço, com a movimentação dos bailarinos, incluindo a mudança nos níveis - enquanto uns estão no alto, outros estão no baixo – que dão um colorido ao bailado. Mas é só...
Além disso, o elenco é jovem e falta uma presença cênica.  Até mesmo o casal de enamorados não cola – como quando na novela das oito os principais são “sem sal” A primeira bailarina, Barbara Garcia, é uma das mais experientes e expressivas – retrata no rosto o sofrimento do sacrifício. Mas não há empatia com seu partner (Amaya Rodriguez).
Amores impossíveis são comuns em histórias de balé e, presentes também em lendas. Quando se cria ou se assiste a uma obra, não há como não fazer conexões com outras já vistas. No segundo ato, quando as índias entram em cena agachadas é impossível não lembrar da “Floresta Amazônica” de Dalal Achcar, de quando a tribo vai colocar fogo na floresta para se vingar da deusa que se apaixonou pelo homem branco.
Do mesmo modo, quando a jovem é apresentada para o sacrifício é difícil não lembrar a bela cena criada por Pina Bausch em “A sagração da primavera”. Em um mundo com tantas boas referências, é mais difícil para o criador se superar, ainda mais para um jovem artista. Uma pena, pois Blanco carrega consigo a tradição do Ballet Nacional de Cuba e de um nome como Alicia Alonso.
Depois de Brasília, o grupo segue para Salvador (dias 23 e 24 no Teatro Castro Alves) e São Paulo (dias 27 a 30, no Teatro Anhembi Morumbi).

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