sexta-feira, 8 de julho de 2011

Um filme rebobinado

Capturar gestos de um instante, montar um quebra-cabeça. A proposta, ousada no conceito, se perde no palco. Fica enfadonho...
“Ímpar” a mais nova criação da companhia carioca Focus, estreou em Brasília no dia 25 de junho, ficando apenas um final-de-semana em cartaz (as temporadas de dança são sempre curtas), no Centro Cultural da Caixa. 
O espetáculo tem nove cenas, apresentadas fora da ordem cronológica. “Oba, vamos montar um quebra-cabeça!”, pensa o espectador. E, pelo início, parece que promete. A cena mostra uma mulher vestindo uma roupa. Hum...
As nove cenas seguem, sempre com blackout entre uma e outra (e isso é um dos motivos do cansaço no espectador). Poderia ter se buscado uma outra forma de ligação entre as cenas e de apresentação – para deixar claro que cada uma era um pedaço do quebra-cabeça. Como são “trechos” de um momento, músicas se repetem, gestos se repetem, coisas se repetem, se repetem, se repetem... a gente vai cansando da repetição.  
Segundo o coreógrafo, Alex Neoral, para marcar o caráter único de cada ato cênico, os noves fragmentos possuem texturas gestuais distintas entre si. “Isso reforça a questão da mudança, a cada momento da sua vida você está em algo diferente. Essas trocas de energia também são um desafio, já que os bailarinos têm que passar de um gestual muito rápido para outro mais devagar.” Mas não é esta sensação que o público tem. Corridas para lá e para cá (como correm este pessoal!), quedas, etc...
Apesar da repetição, o espetáculo tem os seus pontos positivos: a técnica dos bailarinos é evidente. Assim como algumas cenas, como a que estão no vestido longo, andando sob os joelhos.
No final, a cena do início, de outro ângulo, como um filme rebobinado. Ah, tá, agora entendi... pensa o espectador. Mas de que adianta, se ele já cansou com tudo aqui?
O espetáculo estreou em abril do ano passado e já foi apresentado no Rio de Janeiro, em Recife e passou por 10 cidades da França.

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