O filme “Duas vidas” (de Jon
Turteltaub) conta a história de um homem que, ao fazer 40 anos, repensa sua
vida. Quem nunca passou por isso? A vida que se tem e a que se queria ter é o
tema de “A mecânica das borboletas”, em cartaz no Centro Cultural Banco do
Brasil até 8 de abril.
A obra de Walter Daguerre foi
criada quando ele esteve em Cerro Branco, no interior do Rio Grande do Sul, e
ficou pensando o que seria aquela vida de laçar cavalo, aquela vida de fazenda,
em contraste com a sua, cosmopolita. A partir desta dualidade, Daguerre se
utiliza da lenda de Rômulo e Remo para soltar suas metáforas a respeito das
nossas escolhas e da construção dos nossos impérios.
“A mecânica das borboletas”
aborda estes temas contando a história de Rômulo, vivido por Eriberto Leão, que volta para casa
20 anos depois de sair em busca do sonho de desvendar o mundo. Ele reencontra o
gêmeo Remo (Otto Júnior), que manteve o negócio do pai e prosseguiu no mesmo
ofício, no mesmo lugar, e que tem o sonho de ter uma Harley Davidson, que usará para a sua vigem. Mas falta ainda
a borboleta do carburador...
Por horas, o texto parece piegas,
mas Daguerre tem boas tiradas – e nos leva a rir das situações da vida. Quem nunca repensou sua vida? Quem
nunca comparou a sua vida com a dos seus irmãos? Mesmo soando piegas, “A
mecânica das borboletas” é universal e, no conjunto, é a encenação é boa –
apesar de algumas escolhas estéticas questionáveis.
O cenário tenta retratar o espaço
da história e dispõe de recursos para desenrolar o enredo. A luz marca as passagens. A trilha sonora
pontua os momentos de tensão e de embates mas, no final, é óbvia, com Jorge Dexler
e a referência ao filme “Diários de uma motocicleta”. Referencias, inclusive,
é um dos recursos mais usados pelo dramaturgo ao longo de toda a história.
Outra escolha estética é a da
direção (Paulo de Moraes), que usa em seus atores um tipo de impostação de voz que
soa falsa. É como se o texto estivesse apenas saindo da boca para fora, sem
verdade. Este elemento é gritante na primeira cena, mesmo na fala de Suzana
Faini, atriz com longa trajetória, que faz o papel da mãe. Por vezes, é como se
estivéssemos assistindo um vídeo com um delay entre a voz e a interpretação. Os
momentos de verdade parecem, somente, os de fúria. No desenvolver da peça, a
interpretação vai se acertando – exceto no caso de Ana Kurtner, que parece ter
uma batata na boca – e os textos não soam mais como da boca para fora. Ou somos
nós, espectadores, que nos acostumamos?
Apesar de alguns poréns, vale a pena sair de casa para ver a peça. É uma obra leve, mas que tras algumas reflexões. Típico programa de domingo. Mas nada que se aplauda em pé.
Apesar de alguns poréns, vale a pena sair de casa para ver a peça. É uma obra leve, mas que tras algumas reflexões. Típico programa de domingo. Mas nada que se aplauda em pé.
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