Os brasilienses tiveram uma
oportunidade rara neste mês de março: assistir a estreia nacional de uma obra
de dança: “Camélia”, da Márcia Milhazes Companhia de Dança, que esteve em cartaz no Centro Cultural
Banco do Brasil de 1º a 18 de março. O espetáculo, gratuito, era apresentado no
vão livre do CCBB. Uma obra delicada, de uma beleza lúdica, que atraia toda a
família – sobretudo por causa do cenário.
Composta por três cenas,
“Camélia” é permeada pela obra de Beatriz Milhazes. A cenografia teve como base
o móbile Aquarium, produzido por Beatriz com pedras e metais preciosos, a
convite da Fondation Cartier, em Paris. São, então, cinco destes móbiles no
teto, espalhados no espaço delimitado para a cena acontecer. As cadeiras para os espectadores
circundam o tablado da cena, sendo que em um dos lados há uma parede de vidro –
que reflete os bailarinos.
“Camélia” é o resultado de uma
experiência anterior de Márcia Milhazes, que havia sido convidada para realizar
uma apresentação na abertura de um panorama da arte brasileira na Espanha e, em
frente a um museu, percebeu como era lidar com espaços abertos. Esta mudança no espaço da cena é um marco na trajetória da coreógrafa, acostumada ao palco italiano.
A trilha sonora compõe e divide
Camélia em três blocos, onde o
foco é a brasilidade. No primeiro estão
os motivos sacros e barrocos de Francisco Xavier Batista ,
Padre José Maurício e Carlos Seixas, compositores do século 17, interpretados
pelo cravista Marcelo Fagerlande. Nesta primeira cena , há uma
ludicidade grande, é como se as bailarinas Aline Arakaki e a brasiliense Ana
Amélia Vianna brincassem entre elas: um jogo de procura e esconde – deixando o
bailarino (Felipe Padilha) solitário. A parede de vidro serve de elemento
definidor desta brincadeira.
O segundo bloco traz Heitor
Villa-Lobos com Prelúdio nº2 , para
piano e violoncelo, e Sonata para cordas. Nesta fase, mudam-se os figurinos e há
mais espaços para pas de deux, como se Felipe Padilha, por vezes, fosse
disputado pelas meninas. A terceira intervenção é um retorno ao século 17, com
peça anônima escrita para viola da gamba. Volta-se também para o primeiro
figurino. O desenho do figurino, também de Márcia Milhazes, compõe com o cenário da irmã, com cores fortes para as bailarinas e branco para o bailarino.
A movimentação do elenco é
permeada pelo uso dos membros: pernas e braços que voam no espaço e, por vezes,
tocam os móbiles, balançando-os. E é
toda essa brincadeira que encanta os olhos. Em cada intervalo, crianças da
plateia invadem o espaço e se divertem tentando tocar os móbiles e voar como os
bailarinos.
Sem grandes pretensões, “Camélia”
é o típico espetáculo familiar, para se deliciar.
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