Dois espetáculos esta semana no Cena
Contemporânea versavam sobre o amor. Os dois tinham o humor como pano de fundo.
Uma obra brasileira de teatro – "Trabalhos de amores quase perdidos” e
outra estrangeira (de teatro físico), da Espanha – Apple Love.
Duas obras que instigavam, mas que
infelizmente não valiam a ida ao teatro. Premiado com Prêmio Shell, Pedro
Brício prometia ao discutir as relações amorosas de pessoas na faixa dos 30
anos. O espetáculo todo era permeado pela metalinguagem. Em cena, quatro atores
que, por hora, discutiam o texto a ser encenado. E, então, por um bom tempo,
era como se estivéssemos vendo uma leitura dramática. Difícil segurar um espetáculo
assim. Cansa. E quando a obra tem mais de uma hora e nem todos os atores são
bons, o resultado é a plateia saindo mais cedo. Em Apple Love parte do público
também saiu do teatro antes do fim do espetáculo.
“Eu não consigo ser profundo. Eu sou
raso”, em determinado momento o ator-narrador diz esta frase. A peça tem
algumas boas tiradas, algumas cenas engraçadas, mas não passa de colagens de
coisas que já vimos em outros lugares. Nada original. E, aí, fica raso mesmo. O
mais profundo de tudo foi o final: com a caixa cheia das cartas não mandadas...
A incomunicabilidade entre os amantes – e sempre que penso nisso, algo tão
comum na nossa era, lembro-me do ótimo “O silêncio dos amantes”, de Lya Luft –
era um dos temas a serem discutidos, segundo a sinopse. As cartas não enviadas
eram o símbolo do não-dito. Mas só elas não bastaram para dar mais sustância à
obra.
Já os espanhóis da Cia Iker Gomes
queriam falar do amor total. Que amor é este? A obra então começa como se
estivéssemos no cinema assistindo ao trailer de algo muito esperado, talvez até
de um show de rock. Oba, prometia, pensei. Mero engano. Mais uma vez cenas
engraçadinhas, com música a la Sidney Magal, com vídeos clipes engraçados –
lembravam Los autênticos decadentes, da Argentina. Mais nada. E com a mesma
música que começou, como num ciclo amoroso, termina.
E a platéia sai com cara de boba.
Então o amor, no século XXI é isso, uma piada?
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