Roupas pra vestir. Roupas pra despir. Roupas para carregar.
Roupas por todos os lados. Roupas como vestígios. Há algo no ar nas artes
cênicas latinas: roupas. As vestimentas servem de fio condutor tanto em “Mi
vida después” e “Enotraparte”, em cartaz no Cena Contemporânea.
Em comum entre as duas obras também as confissões: dos
atores, na peça argentina; dos bailarinos, na colombiana. Coincidências ficam por aí, pois os temas de
discussão são outros.
“Enotraparte” quer discutir a identidade. Como é ser
estrangeiro hoje, num mundo interligado, como é ser de algum lugar? O que nos
faz pertencer?
Os bailarinos contam histórias, nas mais diversas línguas.
Enquanto uns contam, outros dançam. Carregam trouxas de roupas – como fugitivos
nos campos mexicanos rumo aos Estados Unidos. Roupas na cabeça, como
lavadeiras. Roupas na mão, como aquele que viaja com o mínimo possível.
Despem-se. E agora, quem sou? Trocam de roupa, como quem troca de identidade.
E, mais uma vez, trocam confidências, sussurradas em pares. Reconhecem-se ou
estranham-se. Esta cena, em que estão perfilados, em duplas, é talvez uma das
mais belas da obra. Beleza singular e emocionante.
Emoção, porém, é o que
falta à obra. Um tema tão delicado e instigante, em que esperamos nos
emocionar. Falta um silêncio na imensidão das roupas, que caem sobre o palco...
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