O que nós levamos de nossos
pais? Suas histórias determinam as nossas? Em que medida elas nos influenciam?
Talvez um pouco disso nos venha à tona ao ver “Mi vida después”, que abriu
ontem o Cena Contemporânea e segue até amanhã na Funarte, em Brasília. Assim
como imaginar que toda ditadura é igual em qualquer lugar.
A peça é baseada na história
real dos pais dos atores, que nasceram entre 1972 e 1983. A partir de fotos,
cartas, roupas usadas, relatos, eles relatam a juventude de seus pais, os anos anteriores
e posteriores ao nascimento daqueles que um dia estariam encenando suas vidas. Anos
de chumbo, em plena ditadura no nosso país vizinho, a Argentina. E, como, ao
ver os relatos, não pensar também na nossa história política?
Como não se emocionar com o
relato do exílio do pai? Com a morte pela ditadura? Com a descoberta de que seu
irmão, parceiro da vida toda, foi raptado? Do mesmo modo, como não rir de
algumas situações vividas por eles.
A história real de pessoas
que viveram a ditatura argentina poderia se tornar em algo enfadonho. Mas a
peça é construída de modo dinâmico – num ritmo acelerado, em que as cenas são
quase que flashes. Imagens projetadas, vídeos, sons em fita cassete, os mais diversos recursos para deixar dinâmico um espetáculo que fala do passado, que tem atores desde os 40 até 20 e poucos anos e que tem a cara da juventude. O texto, mesmo quando sério, não soa chato.
Um momento muito
interessante é quando eles contam – de forma fragmentada – sonhos com seus
pais. É quase uma aula de psicanálise. Inclusive, a relação deles com o que
foram seus pais, é um exercício de auto-reflexão – o que deles (nossos pais) existe em nós, afinal? A
peça poderia terminar ali e, parte das histórias que vêm depois, estar antes
desta bela cena. Sem projeções para o futuro. Para quê?
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